Está claro que Cristo não imaginou a Igreja como a temos, nós, hoje.
Com um Papa, vestido de modo estranho e andando protegido por muitos guarda costas e dentro dum "Papamovel" à prova de bala, nem metido naqueles palacetes antigos, recheado de arte e de dourados.
Nem imaginava uma Igreja com Bispos à frente de dioceses, também com vestes de outros tempos e vigias da ortodoxia da fé de seus membros. Nem de padres dispersos pelas comunidades que, tendo todos o mesmo evangelho, tão diferentes interpretações e vivências, eles sacam dele.
Mas também sabemos que a Igreja ao longo da História já passou diversas vicissitudes e contratempos. Já cometeu muitos erros pecados e está ainda a cometer muitos mais. Daqui a um século surgirá um Papa que vai pedir desculpa ao mundo pelos erros que andamos, hoje, por aqui a cometer. Ao contrário do que nós aprendemos noutros tempos, nos bancos dos Seminários, já sabemos por experiência, que a Igreja não é nada uma "sociedade perfeita". Ela tem a marca da imperfeição dos homens. De cada um de nós. Aliás, perfeito, só Deus. E Deus só há um.
Mas deixemos, agora, todos esses pecados com que os homens cravaram a sua genuína Igreja de Jesus Cristo e que as primeiras comunidades cristãs, ainda saborearam.
Uma verdade fundamental, e que o Concílio Vaticano Segundo no-lo revelou, é que fundamentalmente somos todos iguais perante Deus, pois todos recebemos o mesmo baptismo e participamos de uma e mesma fé. Este é um dado fundamental que, muitas vezes, o estruturalismo hierárquico das Igrejas, tenta ofuscar e até manipular. No entanto, sabemos que o Concílio definiu a Igreja como o Povo de Deus, aqueles que em Cristo foram baptizados. Esta verdade torna-se fundamental, para quem quiser ter uma visão correcta da Igreja que Cristo quis para os homens.
Tirado do livro, "Cristo de língua afiada"
Padre Salvador Cabral