“Pai porque me abandonaste?” Eis aí uma das mais intrigantes partes da Bíblia. Jesus, o Filho de Deus, o Verbo de Deus que se fez carne e habitou entre nós, está morrendo na cruz e se sente abandonado por Deus, pelo Pai. Como explicar isso? Qual foi, realmente, o sentimento de Jesus naquela hora?
Jesus sentiu-se só, abandonado. Sentiu a ausência de Deus.
Quantos têm se sentido assim também, como Jesus, só, abandonado, e, em vez de sentir a presença de Deus, percebe apenas uma grande ausência? Os céus se calam, intervenções milagrosas não acontecem e só há ausência, abandono.
Mas, onde estava Deus? Sim, Deus estava lá. Deus também sofreu ao contemplar seu Filho no calvário e ao ver tanta maldade no coração daqueles que o crucificaram. Ele estava ali, recebendo seu Filho e aprovando seu tremendo sacrifício. Após Jesus expirar, a natureza toda gemeu, em sinal que Deus estava sim ali.
Penso que, às vezes Deus se faz ausente para que seus filhos cresçam e amadureçam, assim como o pai que vê seu filho dar os primeiros passos se afasta da criança para que ela se encoraje a caminhar com as próprias pernas. É claro que, se a criança, ainda sem coordenação motora suficiente, tropeçar e cair, os braços de seu pai estarão ali para ampará-la. Da mesma forma, Deus, quando sai de cena, não nos abandona à própria sorte, seus braços amorosos estarão sempre por perto para nos amparar.
A ausência de milagres, o silêncio dos céus e essa sensação de abandono são uma prova para nossa fé. Crer, ainda que não se veja coisa alguma, crer, porque é verdadeiro, simplesmente, e não porque é visível.
Quando Deus se faz ausente e não há grandes sinais, é preciso continuar crendo. Assim a fé será madura e desinteressada. Só assim se percebe Deus em todas as coisas e nas situações mais complexas da vida humana.