A atitude
das pessoas contemporâneas de Jesus, que o festejaram na sua entrada em
Jerusalém e depois o abandonaram à mercê de seus algozes, se assemelha, muitas
vezes, a atitudes de cada um de nós que louvamos a Cristo e nos enchemos de
boas intenções para seguir os seus ensinamentos e, ao primeiro obstáculo, nos
deixamos levar pelo desânimo, ou pelo egoísmo, ou pela falta de solidariedade
e, mais uma vez, alimentamos o sofrimento de Jesus.
A Festa de Ramos com hosanas e saudações,
prefigura a vitória de Cristo sobre a morte e o pecado, mas a hora definitiva
ainda chegará. Jesus vai ao encontro da paixão com plena consciência e
aceitação livre. Tem o poder de solicitar legiões de anjos que venham em seu
auxílio, mas renuncia ao uso deste poder. Ele veio trazer a paz ao mundo,
escolhe o caminho da humildade, a vontade do Pai se realizando.
Entre a entrada festiva como rei em Jerusalém
e o deboche da flagelação, da coroação de espinhos e da inscrição na cruz
(Jesus de Nazaré, rei dos Judeus), somos levados a pensar: Que tipo de rei o
povo queria? E que tipo de rei Jesus de fato foi?
O povo ansiava por um Messias, mas cada um o
imaginava de um jeito: poderia ser um rei, um guerreiro forte que expulsasse os
romanos, um “ungido de Deus” capaz de resolver tudo com grandes milagres... É
verdade que havia também textos que falavam no Messias sofredor, que iria
carregar os pecados do povo. Mas essa idéia tão estranha não tinha assim muito
apelo. Talvez o povo pensasse como muita gente de hoje: “de sofredor, já basta
eu, quero alguém que saiba vencer”.
Deus, como
de costume, exagera na surpresa. O Messias, além de não vir alardeando poder,
entra na fila dos condenados. Para quem não olhasse a história com os olhos de
hoje, não haveria muita diferença entre as três cruzes no alto do monte
Calvário.
Domingo de Ramos é o portal de entrada da
Semana Santa. Para as comunidades cristãs, esta semana maior sempre será um
confronto com o problema do mal no mundo. Muito sofrimento. Além das
catástrofes naturais, há no mundo muita opção de morte, desde a violência da
guerra, o terrorismo, a violência urbana, a morte pela fome e as deficiências
até a violência contra a própria natureza.Qual a saída? A guerra preventiva
para vencer o terrorismo com o terrorismo? A imposição da idolatria do capital
contra o império do mal?Ou a saída, certamente a mais difícil, não será a da proposta do Evangelho, que passa pelo mistério da paixão, morte e ressurreição do Senhor? Muitas vezes Jesus caminha ao nosso encontro e nós não o reconhecemos.
Tenhamos a coragem de viver estes dias da
Paixão meditando os sofrimentos de Cristo, que são os nossos sofrimentos para
vencermos a morte na alegria da Ressurreição.