Desde o final do século IV, a Igreja valoriza a preparação da Páscoa através de um período de 40 dias. A Bíblia usa com frequência períodos de 40 dias (ou 40 anos) para indicar ocasiões especiais em que são vividas experiências importantes: são os quarenta anos de caminho do povo no deserto, os 40 dias de Jesus no deserto, 40 dias de Moisés no Monte Sinai, os 40 dias das andanças de Elias até a montanha de Deus...
Esses períodos vêm
antes de fatos importantes e se relacionam com a necessidade de ir criando um
clima adequado e dirigindo o coração para algo que vai acontecer.
Assim, hoje para nós,
a Quaresma é tempo de ouvir com melhor disposição o apelo que Deus nos faz para
sermos mais generosos, mais santos, mais fiéis ao compromisso de nosso Batismo.
Assim como, para corrigir uma escrita, apagamos primeiro os erros, para corrigir
nossos rumos de vida, confiamos no perdão de Deus, que apaga as nossas faltas.
Por isso, Quaresma é também tempo de revisão de vida, de penitência, de
reconhecer, com humildade e confiança, onde estão nossas deficiências e buscar
o perdão e a força de Deus. Podemos fazer isso na tranqüila esperança que vem
da fé no amor de Deus, que sempre chama, ajuda, perdoa e faz crescer.
A ideia central que
vai ser o fio condutor nas reflexões desenvolvidas na Quaresma é a gratuidade
do amor de Deus, capaz de tudo para nos salvar, sempre disposto a perdoar. Esse
amor se manifesta em Jesus até as últimas consequências, numa doação que não
conhece limites. A permanente misericórdia que vai aos extremos para nos salvar
não está condicionada aos nossos méritos, mas é derivada da própria natureza de
Deus, que não pode deixar de ser amor.
Esperamos que esse
amor gratuito seja estímulo para nunca desanimarmos diante de nossos pecados e
limitações. Sabendo que dependemos sempre da compaixão de Deus e que ela nunca
nos falta, deveríamos nos dispor a usar também de compaixão para com nossos
irmãos e a lutar com esperança por tudo que traz mais vida para todos.
Padre Wagner
Augusto Portugal